Se a implementação é difícil de ser explicada, provavelmente é uma péssima ideia

Posted on February 15, 2025 by Bruno G. Ciccarino

A complexidade é um desafio inerente ao desenvolvimento de software e sistemas. Quando uma implementação se torna tão intrincada que sua explicação demanda um esforço excessivo, algo está errado. A frase “Se a implementação é difícil de ser explicada, provavelmente é uma péssima ideia” sintetiza o princípio de que soluções eficazes costumam ser simples e claras. Este artigo explora como a dificuldade de comunicação pode refletir falhas de design, os riscos de soluções excessivamente complicadas e a importância da simplicidade na engenharia de software.

A clareza e a qualidade técnica caminham juntas. A complexidade acidental – aquela que não é essencial ao problema – geralmente resulta de más decisões de design, como o over-engineering ou o uso inadequado de padrões. Em contraste, sistemas simples facilitam a manutenção, a depuração e a evolução. Se um desenvolvedor não consegue explicar como algo funciona de forma sucinta, isso pode indicar a violação de princípios fundamentais como o KISS (Keep It Simple, Stupid) ou o YAGNI (You Ain’t Gonna Need It). Assim, a capacidade de explicar uma implementação torna-se um termômetro do domínio sobre o problema e a solução, revelando, quando ausente, riscos como dependências ocultas, efeitos colaterais não mapeados e fragilidade frente a mudanças futuras.

Implementações complicadas não afetam somente o código, mas também a manutenção e a colaboração em equipe. Códigos excessivamente complexos dificultam a integração de novos membros, criam gargalos de produtividade e elevam custos, além de propiciar a ocorrência de erros. Exemplos práticos incluem o uso desnecessário de padrões de projeto – como a aplicação de um Factory para uma única classe –, a otimização prematura que torna o código ilegível para ganhos de performance insignificantes e a criação de abstrações que obscurecem a lógica central, transformando partes do sistema em verdadeiras “black boxes”.

Para evitar essas armadilhas, adotar princípios de design que priorizam a simplicidade é fundamental. A abordagem KISS enfatiza que a solução mais direta para resolver um problema é geralmente a melhor escolha. Em paralelo, os princípios SOLID asseguram que classes e módulos tenham responsabilidades bem definidas e interfaces claras, facilitando a compreensão e a manutenção do sistema. Uma documentação ativa, aliada a uma cultura robusta de revisão de código, é essencial para identificar e eliminar complexidades desnecessárias. Perguntas simples, como “Você consegue explicar essa função em 30 segundos?”, podem orientar refinamentos importantes no design.

Implementações difíceis de explicar representam um desafio que transcende o aspecto técnico, afetando também a organização e a eficiência das equipes. Elas indicam uma possível falta de maturidade na compreensão do problema, corroendo a eficiência e aumentando os riscos operacionais. Por outro lado, a simplicidade é a base de sistemas resilientes e de equipes ágeis. Como bem disse Dijkstra, “A elegância não é um luxo dispensável, mas um fator que decide entre o sucesso e o fracasso.” Assim, se uma ideia não pode ser facilmente colocada em um quadro branco, talvez seja hora de repensá-la. Para aprofundar o tema, recomenda-se a leitura do artigo “stop writing classes”, disponível em https://pyvideo.org/pycon-us-2012/stop-writing-classes.html.